terça-feira, 26 de março de 2013

O que muda para empregados e patrões com a PEC das Domésticas

Texto foi aprovado nesta terça-feira (26) pelo Senado, em segundo turno.
Estão previstas jornada de trabalho de 8 horas e pagamento de hora extra.

Com a aprovação em segundo turno pelo Senado, nesta terça-feira (26), da proposta de emenda à Constituição conhecida como PEC das Domésticas, os direitos dos trabalhadores domésticos serão ampliados. Entre as mudanças estão a jornada de trabalho de oito horas diárias e 44 horas semanais, pagamento de hora extra e de adicional noturno, além de FGTS obrigatório.
O texto já foi aprovado pela Câmara, e só precisa ser promulgado pelo Congresso para começar a valer.
A PEC afeta qualquer trabalhador contratado para trabalhar para uma pessoa física ou família em um ambiente residencial e familiar com vínculo a partir de três dias por semana. Entre eles, estão profissionais responsáveis pela limpeza da residência, lavadeiras, passadeiras, babás, cozinheiras, jardineiros, caseiros de residências na zona urbana e rural, motoristas particulares e até pilotos de aviões particulares
Segundo Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, mestre em direito do trabalho e professor de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, profissionais responsáveis pela limpeza da residência, babás, cozinheiras, motoristas e jardineiros, por exemplo, terão seus direitos igualados aos dos trabalhadores em regime CLT e garantidos em contrato, que “será o principal instrumento de defesa e garantia dos direitos”.
"Trata-se de um avanço necessário para tornar o empregado doméstico de vez um verdadeiro cidadão com amplos direitos e deveres”, afirmou. Segundo ele, com a emenda, a empregada doméstica terá de exigir em seu contrato os novos direitos. “O empregador terá que cumprir as novas regras. A supervisão será feita por sindicatos e associações de domésticas e trabalhadores.”
COMO É HOJE
Para o empregador Para o trabalhador
Salário
O empregador precisa pagar, ao menos, o equivalente a um salário mínimo mensal ao empregado
Recolhimento do INSS
Recolhe, ao INSS, o equivalente a 12% do salário pago ao trabalhador doméstico
Repouso remunerado
Precisa dar ao trabalhador um dia de descanso semanal, preferencialmente aos domingos

Férias
Precisa remunerar o trabalhador com férias de 30 dias por ano (com o adicional de um terço do salário)
13ª salário
Paga o equivalente a um salário a mais por ano ao trabalhador com base na remuneração (fração igual ou superior a 15 dias trabalhados)
Aviso Prévio
Deve conceder aviso prévio de no mínimo 30 dias

Irredutibilidade dos salários
O empregador não pode diminuir o salário pago ao doméstico, a menos que isso seja acordado em convenções ou acordos coletivos.
FGTS
O pagamento é facultativo
Salário
Tem o direito de receber, ao menos, um salário mínimo ao mês
Recolhimento do INSS
Recolhe, ao INSS, o equivalente a entre 8% e 11% do salário que recebe

Repouso remunerado
Tem direito a um dia de folga por semana (preferencialmente aos domingos)
Férias
Tem direito a férias anuais remuneradas e a receber mais um terço do salário normal

13ª salário
Tem direito ao 13º salário com base na remuneração (fração igual ou superior a 15 dias trabalhados)
Aposentadoria
Como contribuinte da Previdência Social, tem direito a se aposentar de acordo com o previsto em lei
Irredutibilidade dos salários
Não pode ter o salário reduzido, a não ser que isso seja acordado em convenções ou acordos coletivos.

Licença gestante e licença-paternidade
A empregada doméstica tem direito a licença maternidade a partir de 28 dias antes e 92 dias depois do parto, num total de 120 dias. O salário maternidade é pago pela Previdência Social – a renda mensal é igual ao seu último salário de contribuição (sobre o qual é descontada a alíquota do INSS)

A licença paternidade é de cinco dias
COMO FICA COM A NOVA PEC
Para o empregador Para o trabalhador
Além das obrigações atuais:
Salário
Precisa pagar ao menos um salário mínimo ao empregado, inclusive para quem recebe remuneração variável
Não pode deixar de pagar o salário
O empregador não pode deixar de pagar o salário todo mês sob nenhuma hipótese ou alegação
Jornada de trabalho
O empregador deve respeitar o limite de 8 horas diárias e 44 horas semanais de trabalho
Hora extra
Se a carga horária ultrapassar o limite da jornada, deve pagar um adicional de 50% sobre cada hora trabalhada a mais

Segurança no trabalho
Deve cumprir normas de higiene, saúde e segurança no trabalho, como oferecer equipamentos de proteção e prevenir acidentes no local de trabalho

Acordos e convenções coletivas
Deve reconhecer e respeitar acordos e convenções coletivas da categoria

Discriminação
Não pode manter diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivos de sexo, idade, cor ou estado civil ou para portador de deficiência

Trabalho noturno
O empregador não poderá ter menor de 16 anos exercendo trabalho noturno, perigoso ou insalubre

Adicional noturno*
Deverá pagar adicional quando o empregado trabalhar no período noturno
FGTS*
Deverá pagar FGTS e indenização de 40% sobre o saldo do fundo se demitir o trabalhador sem justa causa
Além dos direitos já garantidos hoje:
Salário
Tem o direito de receber, ao menos, um salário mínimo ao mês, inclusive quem recebe remuneração variável
Pagamento garantido por lei
Tem direito a garantido a receber o salário todo mês.

Jornada de trabalho
Deve cumprir a jornada de 8 horas diárias e 44 horas semanais
Hora extra
Tem direito a receber pelas horas extras trabalhadas
Segurança no trabalho
Tem direito a trabalhar em local onde sejam observadas todas as normas de higiene, saúde e segurança
Acordos e convenções coletivas
Terá as regras e acordos estabelecidos em convenções coletivas dos trabalhadores respeitados pelo empregador

Discriminação
Não pode sofrer diferenças de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivos de sexo, idade, cor ou estado civil ou para portador de deficiência
Trabalho noturno
O trabalhador menor de 16 anos não poderá trabalhar à noite, ou ter trabalho perigoso ou insalubre

Adicional noturno*
Terá direito a receber a mais se trabalhar à noite

FGTS*
Tem direito ao depósito do FGTS por parte do empregador, além de indenização de 40% do saldo do FGTS se for demitido sem justa causa

Seguro desemprego*
Tem direito a receber seguro desemprego se for demitido

Salário-família*
O trabalhador de baixa renda tem direito a receber salário-família para cada dependente

Auxílio-creche e pré-escola*
Tem direito a assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até os cinco anos de idade em creches e pré-escolas

Seguro contra acidentes de trabalho*
Tem direito ao seguro contra acidentes de trabalho
Indenização em caso de despedida sem justa causa*
*Depende de regulamentação. Algumas entidades defendem que essas regulamentações já são aplicadas para outras categorias e devem ser estendidas ao empregado doméstico. Outras defendem que será preciso criar novas regulamentações para que os direitos entrem em vigor
Fontes: Ricardo Pereira de Freitas Guimarães (PUC-SP); Wilza Sodré Farias de Almeida (SED/MT),  Mário Avelino, presidente do Portal Doméstica Legal, e Alexandre de Almeida Gonçalves, advogado especialista em direito empresarial e concorrencial


Entrada em vigor
Algumas das alterações previstas no texto, contudo, podem não entrar em vigor automaticamente após a aprovação, afirmam especialistas ao G1. Isso porque algumas delas precisam de uma regulamentação.
Um dos exemplos é da obrigatoriedade do recolhimento do FGTS. Para Mário Avelino, presidente do Portal Doméstica Legal, será necessária a criação de uma regulamentação específica para a obrigatoriedade do recolhimento do FGTS aos domésticos. "Pelo texto que eles estão votando, depende de lei ordinária ou regulamentadora", avalia.
Contudo, o advogado Alexandre de Almeida Gonçalves, especialista em direito empresarial e concorrencial, avalia que a obrigatoriedade entra em vigor assim que aprovada a PEC. "A partir do momento que o fundo de garantia já é aplicado a outros trabalhadores, não tem porque negar o direito (...).  Os empregadores que se negarem a isso vão ser acionados na Justiça e vão perder", alega.

Gonçalves afirma que já existem regras previstas para o pagamento do FGTS no país, que inclusive já são seguidas pelos empregadores de domésticos que fazem o recolhimento, hoje  opcional.
No caso de pagamento de auxílio-creche e pré-escola, por exemplo, tanto Avelino quanto Golçalves acreditam que a regulamentação é necessária. A discussão sobre essa obrigatoriedade acontece também para outros itens previstos na PEC, como o seguro contra acidentes de trabalho, o salário-família e o seguro desemprego.

O adicional noturno também é um assunto polêmico, tendo em vista que muitos domésticos dormem na casa dos patrões, mas não ficam trabalhando o tempo todo. "Há exceção das empregadas que moram na casa. Se ela simplesmente dorme na moradia, não tem com receber adicional noturno sobre essas horas. Agora, se o patrão pedir serviço, aí sim deve ganhar", avalia Gonçalves.

Gastos a mais
De acordo com os cálculos de Golçalves, o recolhimento do FGTS para um trabalhador doméstico que recebe, em média, R$ 1.000, faz com que o empregador desembolse cerca de R$ 90 a mais por mês (considerando o benefício de vale-transporte pago em passes e que o trabalhador tenha tirado as férias anuais).
Com relação ao pagamento de horas extras, para um trabalhador com salário médio de R$ 800 mensais, Avelino calcula um gasto mensal de aproximadamente 36% a mais por parte do empregador (considerando duas horas extras por dia, em um mês de 22 dias úteis, e incluindo FGTS e INSS).
Controvérsias
Na opinião de Gonçalves, a PEC é uma evolução para os domésticos, que merecem ter os direitos equiparados aos dos demais trabalhadores. Ele acredita, aliás, que determinados pontos podem ser administrados entre as partes, como o controle da jornada de trabalho. "Ninguém precisa sair instalando ponto eletrônico em casa; nem empresas com menos de dez funcionários são obrigadas. Eu sugiro manter um caderninho, com o registro e assinatura do empregado e do patrão. Isso protege os dois", diz.
Wilza Sodré Farias de Almeida, presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos de Mato Grosso (SED/MT), também afirma que os domésticos sindicalizados deverão assinar um caderno de ponto na residência, para registrar a carga horária trabalhada.
Tratase de um avanço necessário para tornar o empregado doméstico de vez um verdadeiro cidadão com amplos direitos e deveres"
Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, mestre em direito do trabalho e professor da PUC-SP
Para Guimarães, da PUC, contudo, a nova legislação pode virar alvo de controvérsias. "Como controlar a jornada de um empregado que trabalha na sua casa? Esse controle será obrigatório, tendo em vista que a CLT apenas determina a necessidade de controle para empresas com mais de dez empregados? Provavelmente, estes temas serão alvos de debates no Judiciário”, afirma o especialista.
Avelino acredita, contudo, que é necessária uma desoneração da folha para os empregadores, que não conseguirão arcar com todas as novas obrigações, se aprovadas. "Vamos ter um divisor de águas a partir da PEC. Isso vai aumentar o número de diaristas, é um processo natural", diz. Na opinião de Avelino, a classe média que emprega os domésticos não tem como arcar com todos os custos extras e acabará precisando demitir o empregado.
"Temos que ter bom senso de fortalecer o empregador e dar possibilidade para manter o trabalhador", sugere.

Obrigações
Wilza avalia, contudo, que os empregados domésticos também terão novas obrigações, o que deve reduzir a relação “familiar” que muitos recebem dos patrões. Benefícios como cesta básica, por exemplo, poderão constar no holerite recebido todos os meses, entre outros abonos. “O empregador tem que tratar o empregado doméstico como empregado dele, com direitos e deveres.”

Para ela, também é possível existir um aumento no número de demissões, provocado pelo incremento nos gastos dos empregadores. “O patrão fica preocupado, não sabe que direito é esse, se faz com que ele pague mais ainda”, explicou.

Por isso, a presidente do SED/MT ressalta a importância da qualificação da mão de obra em todas as linhas de trabalho doméstico.
Agências prestadoras de serviços
Wilza e Golçalves também prevêem um aumento na demanda por empresas que agenciam trabalhadores para atuar em residências familiares. Para o professor da PUC, trabalhar para uma dessas agências ou negociar o contrato diretamente com a pessoa física que mantém a residência será uma escolha “subjetiva” de cada empregado doméstico. “Mas é importante ressaltar que, qualquer que seja a sua opção, ela terá seus direitos garantidos pela Constituição e leis trabalhistas".

OIT aprova convenção que determina direitos iguais para domésticos

Países terão que ratificar o texto aprovado.
Em 2009, 6,7 milhões de brasileiras eram trabalhadoras domésticas.


Os membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprovaram nesta quinta-feira (16) a convenção sobre os trabalhadores domésticos, que pretende garantir mais direitos à categoria.
A convenção, que vinha sendo discutida na Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, foi aprovada por 396 votos a favor, 16 votos contra e 63 abstenções.
O texto aprovado propõe que os trabalhadores domésticos passem a ter os mesmos direitos dos demais trabalhadores, de acordo com a OIT.
"Todo membro deverá adotar medidas para assegurar a igualdade entre os trabalhadores domésticos e os trabalhadores em geral em relação às horas extras normais de trabalho, a compensação das horas extraordinárias, os períodos de desanso diários e semanais e as férias anuais remuneradas, em conformidade com a legislação nacional ou com convênios coletivos, tendo em conta as características especiais do trabalho doméstico", diz o texto aprovado.
De acordo com as normas da OIT, o convênio entrará em vigor 12 meses após sua ratificação por dois países. A partir desse momento, o texto entrará em vigor para cada país 12 meses após sua ratificação pelo mesmo.
No Brasil
Atualmente, o trabalho dos domésticos no Brasil não é regulado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), assim como os demais trabalhadores. São considerados trabalhadores domésticos aqueles que não geram lucros ao empregador, como cozinheiro, babá, faxineiro, vigia, motorista particular e jardineiro.
O trabalho é regulado pela lei 5.859, de 11 de dezembro de 1972, que estabelece que os domésticos têm direito a férias anuais de 30 dias com pagamento de um terço adicional, estabilidade para gestantes até cinco meses após o parto e registro no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), para efeito de aposentadoria.
A Constituição de 1988 também assegura aos domésticos salário mínimo, irredutibilidade salarial, repouso remunerado, licença-maternidade por 120 dias e aviso prévio. No entanto, não aborda jornada de trabalho e trabalho noturno, um dos principais pleitos dos domésticos.
Além disso, no Brasil não é obrigatório que o empregador inclua o doméstico no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Se não estiver no FGTS, o trabalhador não tem aos recursos assegurados aos demitidos sem justa causa. No caso dos domésticos, também não têm direito ao seguro-desemprego.
No caso do Brasil, a mudança poderia ocorrer por meio de proposta de emenda à Constituição, para que o texto determine que os domésticos tenham os mesmo direitos. Também poderia ser alterada a legislação específica sobre os domésticos. Ainda não há informações precisas de quais instrumentos seriam utilizados pelo governo brasileiro.
Uma PEC tem que ser aprovada em dois turnos na Câmara e em dois turnos no Senado. Já um projeto de lei precisa passar pelas duas Casas e ser sancionado pelo presidente da República.
Para a OIT no Brasil, a convenção é um "passo importante" para que os direitos dos domésticos passem a ser assegurados no Brasil.
Brasil na conferência
A conferência está em sua 100ª edição. O Brasil está representado pela diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo, pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e por representantes dos trabalhadores e dos empregadores.
Em nota, a assessoria do ministro informou que Lupi discursou nesta segunda e destacou a importância da aprovação da convenção.
"Essa é uma das categorias profissionais historicamente mais negligenciadas do mundo do trabalho. Essa convenção representará sem dúvida um importante passo à frente nesta trajetória. A trabalhadora e o trabalhador doméstico encontram-se expostos a um sem número de vulnerabilidades, abusos e discriminações. Queremos apoiar a adoção de uma norma que estenda às trabalhadores domésticos o direito a uma vida digna com trabalho decente", disse Lupi.
Estatísticas
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, em 2009, 6,7 milhões de mulheres tinham o trabalho doméstico como fonte de renda. Dessas, somente 26,3% tinham carteira assinada.
Ainda conforme o Ipea, a jornada de trabalho girava em torno de 58 horas semanais, contra as 44 previstas para as demais categorias profissionais no geral.

Senado aprova ampliação de direitos trabalhistas das domésticas

Senado aprova ampliação de direitos trabalhistas das domésticas

PEC deve ser promulgada e passa a valer após nova sessão do Congresso.
Apesar de garantir 16 novos direitos, sete vão precisar de regulamentação.

O Senado concluiu nesta terça-feira (26) a aprovação da proposta de emenda à Constituição conhecida como PEC das Domésticas, que iguala os direitos trabalhadores domésticos aos dos demais trabalhadores urbanos e rurais.
A proposta, que já havia sido aprovada em primeiro turno na terça passada (19), foi aprovada novamente por unanimidade no segundo turno, com o voto favorável de 66 senadores. De acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o texto será promulgado na próxima terça-feira (2 de abril), sessão conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados.
Durante a votação, vários senadores apelidaram informalmente a PEC de Benedita da Silva, ex-empregada e hoje deputada federal pelo PT-RJ, que trabalhou pela aprovação.
A partir da promulgação, na próxima terça (2), a PEC já garante a aplicação imediata de nove novos direitos a babás, faxineiros e cozinheiros, dentre outros trabalhos exercidos em residências.
Arte PEC das Domésticas direitos (Foto: Arte G1)
Outros sete direitos, no entanto, ainda dependerão de regulamentação para detalhar como serão aplicados e efetivar os direitos e deveres de empregados e empregadores.

Entre os direitos que começam a valer imediatamente após a promulgação da lei, estão a garantia de salário nunca inferior ao mínimo (hoje em R$ 678), jornada de trabalho não superior a 8 horas por dia (máximo de 44 horas semanais), pagamento de horas-extras, além do reconhecimento de convenções ou acordos coletivos (veja tabela ao lado).
Por enquanto, não serão efetivados de imediato o direito a indenização em demissões sem justa causa, a concessão de seguro-desemprego e salário-família pelo governo, conta no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), adicional norturno, auxílio-creche e o seguro contra acidentes de trabalho.

Regulamentação
Segundo o Ministério do Trabalho, todos esses direitos ainda dependem de novas leis, ou alteração das existentes – que precisam passar pelo Congresso –, além da edição de decretos ou portarias – lançadas pelo próprio governo.
Não há prazo definido para essas novas normas, mas o Ministério do Trabalho disse que a expectativa é que elas sejam criadas "o mais rápido possível", segundo a assessoria da pasta.
A assessora jurídica da Federação da Empregadas e Trabalhadoras Domésticas do Estado de São Paulo, Camila Ferrari, se reuniu na tarde desta terça (26) com o presidente do Senado para pedir a regulamentação do texto.
Diante da dificuldade para fazer o controle de horários, ela considera necessário que seja estabelecido um piso salarial diferente para profissionais que dormem na casa do patrão.
Segundo ela, o piso maior evita o excesso de pagamento de horas extras e de adicional noturno. "Estamos lidando com patrão e não com uma empresa com vários funcionários. Não é interesse do sindicato onerar o patrão e causar risco de aumento de demissões e da informalidade", afirmou.
7 milhões
Dados do Ministério do Trabalho estimam em 7 milhões o número de trabalhadores domésticos no país hoje; destes, somente cerca de 1 milhão têm carteira assinada e, portanto, os direitos trabalhistas assegurados. Até a aprovação da PEC, os domésticos registrados já tinham direitos como 13º salário, repouso semanal, férias, aposentadoria, entre outros.
Em novembro de 2011, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomendou condições de trabalho e remuneração decente e iguais aos dos demais trabalhadores para os domésticos em todo o mundo. A organização alertava que a falta de proteção legal aumenta a vulnerabilidade desses profissionais.
Neste ano, a OIT apresentou estudo que aponta o Brasil como o país com mais empregados domésticos, seguido pela Índia, com 4,2 milhões e a Indonésia com 2,4 milhões.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Após alta, pai dopado por filha ganha vaga em clínica com 'mendigo gato'

Para dar continuidade ao tratamento, ele foi levado para clínica no interior.
'Ainda não está recuperado', diz filha sobre estado do pai.

Tatiana Santiago Do G1 São Paulo
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Reinaldo Mira e Rafael Nunes, o mendigo gato, se recuperam juntos em clínica de dependência química (Foto: Divulgação)Reinaldo Mira e Rafael Nunes, conhecido como 'Mendigo Gato', se recuperam juntos em clínica de dependência química em Araçoiaba da Serra (Foto: Divulgação)
A luta da autônoma Ana Paula Mira, 33 anos, para libertar o pai, o ex-vendedor Reinaldo Rocha Mira, 61 anos, da dependência do crack não terminou após conseguir internação por quase dois meses em um hospital público.
Insatisfeita com a alta, ela obteve apoio gratuito de uma clínica particular no interior de São Paulo. Na tarde desta sexta-feira (22), o ex-vendedor foi internado em uma clínica para dependentes químicos em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo, onde se encontrou com Rafael Nunes, 31 anos, conhecido como "Mendigo Gato" que também faz tratamento contra drogas.
O dependente foi o primeiro internado involuntariamente no Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod). Para levá-lo ao tratamento, a filha colocou calmante em um suco.
Com dez quilos a mais do que antes da internação, Reinaldo passou pela primeira etapa do tratamento sem voltar às ruas e sem recaídas. Na manhã desta sexta-feira (22), ele recebeu alta do Hospital Lacan, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Ana Paula se diz feliz com a primeira etapa, mas discorda da continuidade do tratamento apenas em unidade ambulatorial. “A desintoxicação e diagnóstico foram adequados. O que é inadequado é dar para a família a responsabilidade de tratar no Caps [Centro de Atenção Psicossocial], sendo que falta estrutura nas unidades para tratar de um caso tão sério”, avalia a filha.
A Secretaria Estadual de Saúde diz que o período de internação é para a desintoxicação do organismo e varia de acordo com a necessidade de cada paciente. O complemento do tratamento deve ser realizado nos Caps.
Segundo Ana Paula, apesar de se mostrar autoconfiante e dizer estar pronto para viver em sociedade, seu pai ainda necessita de tratamento. No mês passado, Reinaldo disse ao G1 que estava recuperado após 30 dias de internação e que pretendia procurar um emprego e dar palestras como voluntário.
Ele está fora da realidade, pois está se achando capacitado para voltar à vida normal, mas não é assim, ainda não está recuperado. Pode ter uma recaída a qualquer momento ou já pode estar na abstinência para ser tão enfático"
Ana Paula,
filha de Reinaldo Mira
“Ele está fora da realidade, pois está se achando capacitado para voltar à vida normal, mas não é assim, ainda não está recuperado. Pode ter uma recaída a qualquer momento ou já pode estar na abstinência para ser tão enfático”, disse Ana Paula.

Para dar continuidade ao tratamento, Ana Paula conseguiu uma vaga gratuita em uma clínica particular de dependentes químicos em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo. O tratamento que dura cerca de 8 meses custa cerca de R$ 15 mil.
O paciente será acompanhado por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, psiquiatras e educadores físicos, fará terapia e acompanhará palestras diárias.
Reinaldo Mira em clínica de dependentes químicos em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo (Foto: Divulgação)Ao chegar em clínica na tarde desta sexta, Reinaldo
estava de barba (Foto: Divulgação)
Caso
Em 21 de janeiro, data do lançamento do programa de enfrentamento ao crack, a autônoma decidiu ir ao Cratod para tentar internar involuntariamente seu pai, que vivia na situação de morador de rua e era usuário de crack há mais de dois anos. No entanto, o dependente usa drogas há mais de 20 anos, entre idas e vindas.
Como o usuário não queria se submeter a um tratamento, a filha dopou o pai com um calmante colocado em um suco para conseguir levá-lo ao Cratod. Depois de esperar mais de 24 horas em um leito provisório, o paciente foi encaminhado para uma vaga no hospital psiquiátrico.
Mendigo Gato
Rafael Nunes, que está internado desde o dia 20 de outubro de 2012, ganhou grande repercussão após uma foto dele ser publicada em uma rede social, quando ele ainda morava nas ruas.
De acordo com o relato da mulher que o fotografou e postou a foto em uma rede social, Rafael a viu com a máquina fotográfica e pediu para que tirasse uma foto dele, pois queria ficar famoso “na rádio”.
Dias depois da publicação da foto, descobriu-se que Rafael era um ex-modelo, que tinha se afundado nas drogas e vivia nas ruas do centro de Curitiba (PR) há um ano.

Cérebro molda suas funções e capacidade pelo constante uso

Para que bloco se transforme em escultura, o que sobra deve ser removido. No cérebro, o que faz essa eliminação é justamente o uso.

Este é o primeiro episódio da série especial "Cérebro, máquina de aprender". Durante toda a semana, o Jornal da Globo mostrará que a aplicação da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, é capaz de resultados excepcionais na vida das pessoas.
O órgão mais complexo do corpo humano tem capacidade de se moldar ao longo da vida. Nós somos capazes de aprender sempre.
Um menino muito curioso, Jian tem 11 anos e, até o ano passado, não sabia ler, nem escrever. Já tinha passado por várias turmas, até entrar na sala da tia Ana. Em três meses, tudo mudou.
Professora há 15 anos, Ana Presciliana Santos observa atentamente cada aluno. Assim, consegue perceber as dificuldades deles, e sabe como motivar a criançada. Ana ensina brincando.
Ana trabalha há cinco anos em uma escola municipal de uma região pobre de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A maneira como a professora ensina mudou completamente há três anos, quando descobriu a neurociência, a ciência que estuda o cérebro.
Desde então, 100% dos alunos que passaram pela sala da tia Ana saíram alfabetizados. “Cada dia você ativa uma área do cérebro, com desenho, com arte, com gráfico, com tudo, e eles ficam mais felizes, aprendem mais, se concentram mais”, diz.
“Não pense que a criança está perdendo tempo porque ela está usando um videogame ou ela está brincando com o violão. Se, na sequência, você mudar para matemática, aquilo que era muito chato, abstrato, incompreensível, passa, quem sabe, a ser interessante, porque o cérebro dela está preparado para focar atenção. Ela está feliz porque fez uma coisa interessante”, afirma Roberto Lent, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nós somos o nosso cérebro. Sem ele, nada no corpo funcionaria. Para falar, andar, comer, se mexer, para tudo o que fazemos, precisamos do cérebro. O órgão pesa muito pouco, não chega a um quilo e meio. Ocupa menos de 2% do corpo, mas consome 20% da nossa energia.
Nosso cérebro custa caro. “Custa caro em termos de energia e em termos de investimento. Entre 500 e 600 calorias mais ou menos, daquelas 2 mil que a gente consome por dia, vão só para manter o cérebro funcionando”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“É mentira, completamente mentira, a gente usa o cérebro todo, 100% do cérebro, inclusive enquanto você está dormindo”, afirma Suzana, sobre a história de que só 10% do cérebro são usados. É o nosso órgão mais complexo.
“A única coisa que se compara ao cérebro é o numero de galáxias no universo. A ordem de dimensão é a mesma, são centenas de bilhões de neurônios”, diz Miguel Nicolelis, chefe do departamento de Neurociência da Universidade Duke (EUA).
Assim como as galáxias, o cérebro é difícil de desvendar. É a parte do nosso corpo que menos se deixa revelar. Temos cerca de 86 bilhões de neurônios, que são células especializadas em comunicação.
A atividade cerebral é a troca de informações entre esses neurônios, mas eles não se tocam diretamente. A comunicação se dá através da sinapse, que é a conexão entre neurônios. É a área em que dois neurônios passam informações de um para o outro através de impulsos elétricos.
 
O cérebro nasce com aproximadamente 250 bilhões de sinapses. Aos oito meses, o bebê já fez 600 bilhões de sinapses.  Esse excesso de conexões no começo da vida é apenas matéria-prima.
É como se fosse um bloco de gelo bruto. Ali dentro há todas as possibilidades de escultura, mas, por enquanto, ainda não é nada. Para que este bloco se transforme em uma escultura de fato, todo material que está sobrando tem que ser removido. No cérebro, o que faz essa eliminação é justamente o uso.
Quanto mais a gente usa o nosso cérebro, mais ele vai se definindo. As conexões que a gente não usa vão sendo eliminadas. Aprender muda o cérebro. Somos capazes de modificar a nossa estrutura cerebral até o último dia de nossas vidas. Vários estudos já comprovaram isso.
Um deles foi realizado com taxistas de Londres. Neurocientistas conseguiram comprovar que a massa cinzenta dos motoristas de táxi aumenta depois que eles memorizam as ruas da cidade. Para poder dirigir um desses símbolos de Londres, não basta ser um bom motorista. É preciso estudar muito para conseguir decorar 25 mil ruas.
O duro treinamento leva cerca de três anos e apenas metade dos candidatos consegue passar. Na pesquisa feita pelos neurocientistas ingleses, foi usado um aparelho de ressonância magnética funcional, que mede a mudança no fluxo sanguíneo dentro do cérebro, enquanto os candidatos a taxista jogavam um videogame que recriava as ruas do centro de Londres.
Os pesquisadores iam acompanhando o que acontecia no cérebro deles. A conclusão foi que os aprovados ganharam, além da licença para dirigir táxis, uma massa cinzenta bem maior.
Neurocientistas são unânimes em afirmar que é possível melhorar a capacidade do nosso cérebro sempre, mas... “Fazer só palavra cruzada não é a solução, mas usar e manter o cérebro sendo desafiado continuamente, intelectualmente. É quase como músculo. Se você para de usar o músculo, tem uma atrofia. O cérebro é muito assim”, afirma Nicolelis.

Exercício cerebral constante pode levar à excelência no que se faz

Praticar modifica o cérebro.
Motivação, foco, atenção e anos de prática lapidam talentos.

Este é o segundo episódio da série especial "Cérebro, máquina de aprender". Durante toda a semana, o Jornal da Globo mostrará que a aplicação da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, é capaz de resultados excepcionais na vida das pessoas.
Ana Botafogo e Thiago Soares, dois ícones do balé clássico. Joe Satriani, John Petrucci e Steve Morse, três gênios da guitarra. Além de serem excepcionais no que fazem, o que mais eles têm em comum?
Muita coisa: motivação, foco, atenção e anos e mais anos de prática. Os três guitarristas começaram a tocar ainda muito jovens, por volta de 11, 12 anos de idade, e estudam até hoje. “É um instrumento que você pode estudar a vida inteira, e ainda assim vai encontrar desafios”, afirma Steve Morse, guitarrista do Deep Purple.
A mais famosa primeira bailarina brasileira dança desde criança. “São muitas horas de exercício, são exercícios a vida toda”, afirma Ana. O primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres começou um pouco mais tarde, já adolescente, mas treina muito, todos os dias da semana. “Umas seis horas e meia a oito horas por dia, fora os espetáculos”, diz Thiago.
Tanta dedicação assim explica, em parte, o sucesso deles. “A princípio, qualquer pessoa pode se tornar excelente, extraordinária no que ela faz, desde que ela tenha um interesse extraordinário pelo que ela faz, e a oportunidade de praticar a um nível extraordinário também com aquilo. É suor mesmo”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Praticar modifica o  cérebro. Para percorrer uma mata, você tem que construir uma série de trilhas. Depois de algum tempo, você percebe que só vai explorar algumas trilhas e elas se tornam mais largas, viram quase estradas.
As que você não percorre vão desaparecendo e, depois de um tempo, a sua mata está assim. É exatamente o que acontece no nosso cérebro. Quanto mais praticamos, mais fortalecemos o caminho que o nosso cérebro faz para executar uma determinada tarefa. Assim ficará mais fácil achar essa trilha da próxima vez.
Há períodos na vida em que ocorrem mudanças no cérebro com mais intensidade. São as chamadas janelas de oportunidade. A maior delas acontece quando deixamos de engatinhar e começamos a andar.
“A criança, até os dez meses de idade, é quadrúpede. Vai engatinhando, e tem um cérebro que funciona que nem o do cachorro ou de qualquer animal quadrúpede. Olhar como um quadrúpede olharia. Quando a criança começa a ficar em pé, descobre um mundo novo”, afirma o neurocientista Ivan Izquierdo, da PUC/RS.
"Aí nascem novos neurônios, ou crescem conexões entre neurônios da vida bípede e morrem diretamente os neurônios que ele carregava da vida quadrúpede. Depois nunca mais na vida teremos uma perda tão gigantesca como essa”, afirma Izquierdo.
“A aprendizagem é toda mais fácil quando é feita de criança. Quanto mais cedo ela puder aprender, melhor”, diz Paulo Ronca, doutor em Psicologia Educacional da Unicamp. É possível começar a criar memórias de longa duração desde pequeno.
Esse é o objetivo da escola municipal de Guarani, uma cidade mineira de apenas 9 mil habitantes. Os professores usam fundamentos da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, para preparar os alunos para a alfabetização.
Quem trouxe a neurociência para algumas escolas de Minas Gerais foi a professora Elvira Souza Lima, coordenadora do projeto Escrita para Todos.  “A criança, nesse período, que é o período do faz de conta, ela cria, mas tem que ser um criar sem avaliação. Então, para a criança que canta todo dia, desenha todo dia, escrever todo dia vai ser absolutamente uma consequência natural”, diz.
Lá, nada é forçado. A ideia é que o aprendizado seja natural, sem imposições, sem críticas. Muito pelo contrário: segundo a neurociência, elogiar é fundamental. “Elogiar é uma motivação extraordinária. Eu acho que precisa ser mais usada, em escolas, em casa”, diz Herculano-Houzel.
“É isso que nós queremos: que nosso aluno tenha, aqui na escola, uma emoção positiva para que ele guarde aquilo na memória e possa usar lá na frente”, afirma Eliana Alvim, supervisora da escola de Guarani.
Não são só emoções positivas que a gente guarda na memória. Acontecimentos negativos também podem ficar para sempre na nossa cabeça. Quem não se lembra onde estava no dia 11 de setembro de 2001? “Todo mundo se lembra onde estava, com quem falou, que horas eram. Foi um momento emocionalmente muito forte, muito intenso.  Então, isso grava melhor”, afirma Izquierdo.
Gravamos até quando não fazemos, até quando não estamos executando a ação. Neurocientistas afirmam: imaginar é quase praticar. “Se eu pedir a você que se imagine andando de bicicleta, é capaz de imaginar-se andando de bicicleta. Se você fizer isso, e eu puder registrar as suas áreas cerebrais, o seu cérebro em funcionamento, as regiões que vão estar ativas são muito parecidas, praticamente as mesmas, que estão ativas quando você, de fato, está andando de bicicleta. Daí se pode concluir que a imaginação é um treinamento.”, explica Robert Lent, neurocientista da UFRJ.
 Ana Botafogo e Thiago Soares sabem bem disso. “Tem coisas que eu não quero me desgastar fisicamente porque eu já fiz muito. Então, faço na memória, ou faço pensando, imaginando que eu estou fazendo. Às vezes, a gente até fala, marcando”, diz Thiago.
Foi imaginando que o jogador de basquete Michael Jordan ganhou um dos títulos dele na NBA, a liga profissional americana. “O mundo inteiro esperava aquela jogada para ganhar o título. Como ele recebeu a bola, e faltavam três segundos, o Michael Jordan ia tentar fazer a cesta. Só que ele pensou anos antes, anos, que se ele tivesse em uma situação dessas, ele ia passar a bola. Porque ia ter alguém sozinho, e foi exatamente o que aconteceu. Três jogadores vieram nele, e tem um jogador que ninguém mais lembra, que é o Carr, que pega a bola e faz a cesta”, diz Miguel Nicolelis, chefe do departamento de Neurociência da Universidade Duke (EUA).

Trabalho de neurocientistas melhora desempenho de estudantes e atletas

Treinamento aumenta a capacidade de concentração e o autocontrole.
Estudantes se aprimoram com jogos de tabuleiro e de raciocínio.


Este é o terceiro episódio da série especial "Cérebro, máquina de aprender". Durante toda a semana, o Jornal da Globo mostrará que a aplicação da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, é capaz de resultados excepcionais na vida das pessoas.
Como você lida com os desafios que surgem na sua vida? Foi com essa pergunta na cabeça e a asa delta nas mãos que o recordista mundial em número de voos duplos, o carioca Ruy Marra, se jogou, sem medo, em uma área que tem muito a revelar: a neurociência, a ciência que estuda o cérebro, aplicada ao esporte.
Ruy já voou com 20 mil pessoas e notou que elas reagem de forma diferente na hora da decolagem. Ficou curioso para saber por que todo mundo garante que vai correr na rampa, mas só 5%, de fato, correm para valer.
O instrutor e o aluno dele têm que alcançar 19 quilômetros por hora nessa corridinha antes do voo. Neste momento, o cérebro joga adrenalina no sangue. O coração começa a bater mais rápido. Os pulmões também passam a respirar mais rápido para gerar mais oxigênio. Todos os músculos do corpo se contraem para formar uma espécie de couraça de proteção. Agora, sim, o corpo está preparado para começar o voo.
Ruy quis saber o que se passa na cabeça das pessoas quando estão diante de situações de tensão. Fez uma pesquisa com 2 mil pessoas que voaram com ele durante dez anos. “Eu comecei a encontrar padrões de comportamento sob estresse. Na praia, eu tinha um questionário sobre tônus afetivo, sobre pai e mãe, matriz emocionais parentais, interações sociais”, diz.
Ruy descobriu que a reação de cada um depende do afeto que essa pessoa recebeu na infância. Neurocientistas afirmam que as trocas afetivas entre pais e filhos no começo da vida são fundamentais para a formação do sentimento de segurança nessa criança no futuro.
Ruy, que é neurocientista, estudou muito e percebeu que poderia ajudar atletas a melhorar seu desempenho trabalhando o cérebro deles. “Imagina que você está na área de aquecimento agora. Trabalhando a respiração. Focada nos movimentos. Que você vai executar durante a luta. Imagina as adversárias que você vai enfrentar”, diz à judoca Kelly Rodrigues. Parece um joguinho bobo, mas fez toda a diferença na vida de Kelly.
Moradora da Rocinha, no Rio de Janeiro, a maior favela da América Latina, ela começou a lutar há cinco anos. O início foi bem difícil. “Ficava nervosa, tremendo, e, na hora de lutar, não conseguia fazer, acabava caindo. Quando o Ruy começou a ajudar a gente com respiração, eu comecei a ter mais foco, conseguia escutar mais o técnico, que não conseguia antes”, afirma a judoca.
A Confederação Brasileira de Judô também usa neurociência no treinamento de seus atletas, e teve resultados. O judoca Rafael Silva, o Baby, ganhou bronze em Londres. “O esporte é feito de detalhes. Todo mundo chega muito treinado, mas, na hora, ali, o mental vai definir a luta, quem está melhor preparado mentalmente”, diz. Fazer parte da seleção brasileira em 2016 é o sonho da Kelly, e ela está lutando muito pra conseguir.
Os neurocientistas usam um aparelho chamado biofeedback nos atletas. Um sensor é colocado na orelha dos judocas para medir a frequência cardíaca.  Quando estão nervosos, ansiosos, o batimento fica irregular.
Para evitar isso, os atletas aprendem uma técnica de respiração para treinar o coração, que envia sinais elétricos para o cérebro. São esses sinais que fazem a asa delta do joguinho ganhar altura e velocidade.
O treinamento aumenta a capacidade de concentração e o autocontrole dos judocas.  Explorar a pausa é o que fazem também os alunos de uma escola municipal de Caucaia, cidade que fica na região metropolitana de Fortaleza. “Antes eu fazia as contas sem pensar, agora eu penso como o método do semáforo, que a tia ensinou: tem que parar, pensar e agir”, diz o estudante Alexsandro Garcia Pereira, de 11 anos.
A metodologia do semáforo é simples e muito funcional. “Quando a gente está na aula de história e geografia, eles param para pensar. Não é que nem antes, que eles diziam qualquer resposta para ser engraçado”, afirma a professora Valdenir Cavalcante.
As crianças são incentivadas a fazer uma tarefa de cada vez. Neurocientistas são unânimes em afirmar que ninguém consegue prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo.
“Quando a gente diz que consegue ler e ver televisão ao mesmo tempo, não consegue. Seus olhos podem continuar se movendo na página, mas ou você registra o texto que está ali na frente dos seus olhos, ou você registra o texto que está ouvindo da televisão. As duas coisas ao mesmo tempo nao acontecem”, afirma a neurocientista da UFRJ, Suzana Herculano-Houzel. “O que a gente consegue fazer é alternar entre duas coisas”, diz.
A escola de Caucaia é uma das mais de 600 que trabalham com um método israelense, baseado na neurociência, trazido ao Brasil pela pedagoga Sandra Garcia.  Eles usam jogos de tabuleiro e de raciocínio.
“Eu aprendi a raciocinar mais, a pensar mais, e melhorei muito nas matérias”, diz a estudante Michele Martins.“Eu não conseguia pensar, fazia tudo ligeiro, aí eu tirava nota baixa. Agora, eu começo a pensar e fazer as contas direito”, afirma o estudante Francisco José Guimarães.
Eles têm apenas uma aula por semana de 50 minutos com os jogos e acabam levando o que aprendem para as outras matérias. “O jogo usa o raciocínio, você encontrar uma outra maneira de resolver uma questão. É o que eu sempre digo para eles, que não existe só uma resposta. Você não pode chegar à resposta só por um caminho. São vários caminhos para chegar a uma mesma resposta”, afirma Valdenir.
Não é só na escola que eles aprendem. Os estudantes ganham os tabuleiros e levam para casa. Alexsandro, aluno do colégio há quatro anos, mora com a família na zona rural de Caucaia. “Eu perdi a vergonha, tenho mais coragem de ler, falo mais com as pessoas. Ler nos ajuda a ser alguém na vida”, diz.

Carreiras e atividades específicas ajudam a desenvolver memória

Atualizado em 23/03/2013 00h42

Carreiras e atividades específicas ajudam a desenvolver memória

Atores e professores têm a memória mais exigida.
Tenistas profissionais melhoram com a ajuda da neurociência.

Este é o quinto e último episódio da série especial "Cérebro, máquina de aprender". Durante toda a semana, o Jornal da Globo mostrará que a aplicação da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, é capaz de resultados excepcionais na vida das pessoas.
Murilo Rosa, 42 anos, ator. Elvira Souza Lima, 62 anos, professora. Será que essas duas profissões têm algo em comum? “As duas profissões que se caracterizam por conservar a memória em idades avançadas são a de ator e a de professor, as duas em que o indivíduo mais tem que ler. A leitura é uma das coisas que mais ajudam na memória, que mais exercitam a memória”, diz o neurocientista Ivan Izquierdo, da PUC/RS.
E acredite: malhar também faz bem à memória. Pesquisas de universidades americanas mostraram  que a prática regular de atividades físicas ajuda a pensar com mais clareza e melhora a aprendizagem.
Antes de ser ator, Murilo Rosa era atleta. Chegou a participar de dois campeonatos mundiais de tae-kwon-do. Murilo pratica, com frequência, duas coisas que ajudam e muito na memória: leitura e exercícios físicos. Não é à toa que ele lida com tanta tranquilidade com os textos que precisa decorar.
“O cérebro da gente é tão complexo, é tão interessante, que aquilo ali já vai se tornando parte de você. Vai ter uma hora que você vai estar repetindo aquele texto que você nem acredita que sabe daquilo”, diz o ator.
Aprender é criar novas memórias de longa duração. Um dos maiores especialistas no mundo em memória é categórico. “Todas as memórias são associativas. A memória é um fato associativo”, afirma Izquierdo.
Veja essa situação como exemplo: você pensou em Florianópolis, onde esteve em dezembro. Dezembro lembra o seu filho porque é o aniversário dele. Aí você se recorda da festa, do bolo do aniversário, do presente que ele te pediu. Isso te faz lembrar do cartão de crédito, que você usou para bancar a festa. Lembra de dinheiro e ativa áreas de matemática no seu cérebro.
A partir de agora, você passa a se concentrar nas contas que tem para pagar. É a chamada memória associativa, quando uma coisa leva à outra. Se você associar o que aprende a algum conhecimento antigo, que você já tenha, fica mais fácil guardar para sempre na sua cabeça.
É justamente o que tentam fazer os professores do colégio Porto Seguro, em São Paulo. Eles trabalham com fundamentos de neurociência. Um deles é transformar o aluno em protagonista.
“Você consegue não prestar atenção quando você é o centro das atenções? Não. Usar atividades em que o aluno faça algo, produza alguma coisa, colabore com os outros, é fundamental. Uma das melhores maneiras de aprender é justamente ensinar”, afirma a especialisa em educação e neurociênciaTracey Espinoza.
Outra descoberta da neurociência fundamental para aprendizagem é a importância do sono. “Nas últimas décadas, o que tem se mostrado é que o cérebro continua muito ativo durante o sono, e essa atividade está a serviço da consolidação da aprendizagem”, diz Fernando Louzada, doutor em Neurociência pela USP.
Se o estudante não dormir bem, não vai conseguir prestar atenção na aula, e ninguém aprende sem estar atento. Uma pesquisa da Fundação Americana do Sono revela que 60% dos adolescentes sentem sono de manhã.
Ou seja, matar a primeira aula, chegar atrasado na segunda e dar uma cochiladinha na terceira não é apenas corpo mole. É fruto dos hormônios. “O ideal seria o turno único, começando 9h, 10h, com atividades mais lúdicas, porque a maioria dos seres humanos é vespertina”, afirma Robert Lent, neurocientista da UFRJ.
Sair da cama cedo para praticar o esporte que mais ama não é sacrifício algum para Bruno Sant’Anna. Ele tem 19 e é uma das promessas do tênis brasileiro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Com o objetivo de aprimorar o desempenho de seus atletas, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) assinou um convênio com o laboratório de neurociência do esporte da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“Hoje, basicamente, os tenistas reclamam da ansiedade e concentração. O nosso trabalho é em cima da concentração, que seria a tensão, e tem a ver com memória de trabalho, com tomada de decisão. Em todos os equipamentos, a gente monitora as funções executivas”, diz Emílio Takase, especialista em neurociência aplicada ao esporte.
A equipe criou softwares que ajudam a desenvolver o treinamento cognitivo dos tenistas.
Enquanto os atletas usam os joguinhos, os profissionais monitoram a frequência cardíaca, a respiração, as ondas cerebrais. “A princípio, acredita-se que o comportamento que ele vai ter nesse tipo de situação vai ser o mesmo em quadra, em situação de jogo. A gente procura treinar isso”, afirma Mark Caldeira, da CBT.
Bruno tem suado a camisa fora e dentro de quadra pra fazer bonito em 2016. Mesmo durante o jogo, lá está a equipe monitorando tudo. A ideia é deixá-lo sob pressão para ver como se sai.
“A pressão é um privilégio. Por melhor que você seja, você nunca pode ficar totalmente confortável numa situação de pressão", afirma o tenista Roger Federer. Palavras do maior vencedor de todos os tempos, que mudou completamente de comportamento ao longo da carreira.
No começo, Federer se descontrolava, mas acabou aprendendo a lidar com a pressão. Durante um ano e meio, teve um treinador mental, como ele mesmo diz, que fez toda a diferença na vida dele.
Hoje, vemos em quadra um Federer equilibrado, tranquilo, em paz, dono de um recorde de 17 Grand Slams. “É emocionante imaginar que o corpo humano pode fazer isso, porque existe aqui alguns quilinhos de matéria cinzenta que transforma os nossos desejos e pensamentos naquela poesia motora”, diz Miguel Nicolelis, chefe do departamento de Neurociência da Universidade Duke

quarta-feira, 13 de março de 2013

Stanford University Flash Mob - Gangnam Style Parody (Official Version)


Fiesta Buena zumba


Para curtir e aprender a dançar !!!!!Vamos laaaaaa

Cardeais foram escolher novo Papa 'no fim do mundo', diz Francisco I

Cardeais foram escolher novo Papa 'no fim do mundo', diz Francisco I

Cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito no 2º dia de conclave.
Primeiro Papa latino-americano vai suceder Bento XVI, que renunciou.

Papa Francisco I (Foto: Reprodução Globo News)O Papa Francisco I aparece pela primeira vez para os fiéis nesta quarta-feira 
O conclave elegeu nesta quarta-feira (13) o cardeal Jorge Mario Bergoglio, argentino, como novo Papa, Francisco I, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana.
Ele se torna o 266º Papa da história, o primeiro latino-americano e também o primeiro jesuíta.
Em sua primeira bênção, para uma Praça de São Pedro lotada de fiéis apesar da chuva, o argentino afirmou, em tom de brincadeira, que "parece que seus colegas cardeais foram buscar o Papa no fim do mundo", em uma referência à sua Argentina natal.
Depois, já em tom mais sério, ele pediu aos cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo para "empreender um caminho de fraternidade, de amor" e de "evangelização".
Falando em italiano e com um leve sotaque, ele também agradeceu ao seu predecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, em um gesto sem precedentes na Igreja moderna: um Papa agradecendo a um sucessor vivo.
Em seguida, ele pediu orações "a todos os homens e mulheres de boa vontade".
"Rezem por mim, e nos veremos em breve", disse, acrescentando que, nesta quinta, pretende rezar para Nossa Senhora.
"Boa noite a todos e bom descanso", finalizou, na varanda da Basílica de São Pedro, sob aplausos da multidão.
O Vaticano informou que a Missa de Inauguração do pontificado vai ocorrer na próxima terça-feira, 19 de março.
Anúncio
O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado com o tradicional "Habemus Papam!" ("Temos um Papa!"), pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran, e recebido com aplausos. Também houve festa na Basílica de Buenos Aires, em que 200 fiéis assistiam a missa no momento do anúncio.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
O novo Papa, um jesuíta de 76 anos, assume com a função de manter a unidade de uma igreja que, nas palavras de seu próprio antecessor, está dividida e imersa em crises.
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Trajetória
Arcebispo de Buenos Aires e primado da Argentina, Jorge Mario Bergoglio é um homem tímido e de poucas palavras, que goza de grande prestígio entre seus seguidores, que apreciam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação.

Ele é admirado por seus dotes intelectuais e, dentro do Episcopado argentino, é considerado um moderado.
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, Bergoglio formou-se engenheiro químico, mas escolheu posteriormente o sacerdócio, entrando para o seminário em Villa Devoto. Em março de 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus (jesuítas). Em 1963, ele estudou humanidades no Chile, retornando posteriormente a Buenos Aires.
Entre 1964 de 1965, Bergoglio foi professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé e, em 1966, ensinou as mesmas matérias em um colégio de Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou teologia.
Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.
Bergoglio foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, entre 1980 e 1986.
Após completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual na cidade de  Córdoba.
Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. Em 1997, ele foi nomeado arcebispo titular de Buenos Aires.
Também atuou como presidente da Conferência Episcopal da Argentina de 2005 até 2011.
Foi criado cardeal pelo então Papa João Paulo II, no consistório de 21 de fevereiro de 2001.
Conclave
O conclave, votação secreta que escolhe o novo pontífice, foi convocado após a renúncia de Bento XVI, anunciada em 11 de fevereiro e concretizada em 28 de fevereiro.
Bento XVI saiu alegando que não tinha mais forças para a tarefa de liderar a igreja. Seu pontificado foi marcado por várias crises, pelo escândalo do acobertamento da pedofilia e pelo vazamento de documentos secretos no chamado escândalo VatiLeaks.
O conclave ocorreu após dez congregações gerais de cardeais, nas quais os problemas da igreja foram debatidos exaustivamente, em meio a muitas especulações e conversas de bastidores sobre os prováveis papáveis.
A imprensa italiana afirmou que um dos principais temas das congregações foi um dossiê preparado no ano passado, a pedido do hoje Papa Emérito Bento XVI, sobre irregularidades na Cúria Romana. Cardeais estariam pressionando pelo acesso ao documento. Questionados abertamente, o Vaticano e cardeais minimizaram a importância do documento.
Renúncia de Bento XVI
O alemão Bento XVI, desde 28 de fevereiro Papa Emérito, anunciou em 11 de fevereiro que havia decidido renunciar.
Ele foi o primeiro pontífice a renunciar em mais de seis séculos, o que criou situações praticamente inéditas para a Igreja Católica Apostólica Romana.

Desde a renúncia, Bento XVI está em Castel Gandolfo, a residência de verão dos Papas, que fica a cerca de 25 km do Vaticano. Ele permanecerá lá por dois meses e depois ficará recluso num antigo convento sobre as colinas do Vaticano, com vista para a cúpula da Basílica de São Pedro.

Cardeal Jorge Mario Bergoglio, da Argentina, é o novo Papa, Francisco I

Ele é o primeiro papa latino-americano da história.
Decisão foi anunciada nesta quarta (13) após dois dias de conclave.

O conclave elegeu nesta quarta-feira (13) o cardeal Jorge Mario Bergoglio, argentino, como novo Papa, sucessor de Bento XVI à frente da Igreja Católica Apostólica Romana.
O nome do escolhido pelos 115 cardeais foi anunciado pelo mais velho dos cardeais-diáconos, o francês Jean-Louis Tauran.
Bergoglio, de 76 anos, escolheu se chamar Papa Francisco I.
A decisão surpreendeu, pois o argentino, citado inicialmente, não aparecia nas últimas listas de favoritos, que incluíam o brasileiro Dom Odilo Scherer e o italiano Angelo Scola.
O novo pontífice deve aparecer em breve na varanda central da Basílica de São Pedro para dar sua primeira bênção 'Urbi et Orbi' (para a cidade de Roma e para o Mundo).
O novo Papa assume com a função de manter a unidade de uma igreja que, nas palavras de seu próprio antecessor, está dividida e imersa em crises.
A fumaça branca apareceu por volta das 19h08 locais (15h08 de Brasília), e foi recebida com festa pela multidão que tomava a Praça de São Pedro. Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram.
Perfil
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, Jorge Mario Bergoglio formou-se engenheiro químico, mas escolheu posteriormente o sacerdócio, entrando para o seminário em Villa Devoto. Em março de 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus (jesuítas). Em 1963, ele estudou humanidades no Chile, retornando posteriormente a Buenos Aires.
Entre 1964 de 1965, Bergoglio foi professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé e, em 1966, ensinou as mesmas matérias em um colégio de Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou teologia.
Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.
Conclave
O conclave, votação secreta que escolhe o novo pontífice, foi convocado após a renúncia de Bento XVI, anunciada em 11 de fevereiro e concretizada em 28 de fevereiro.
Bento XVI saiu alegando que não tinha mais forças para a tarefa de liderar a igreja. Seu pontificado foi marcado por várias crises, pelo escândalo do acobertamento da pedofilia e pelo vazamento de documentos secretos no chamado escândalo VatiLeaks.
O conclave ocorreu após dez congregações gerais de cardeais, nas quais os problemas da igreja foram debatidos exaustivamente, em meio a muitas especulações e conversas de bastidores sobre os prováveis papáveis.
A imprensa italiana afirmou que um dos principais temas das congregações foi um dossiê preparado no ano passado, a pedido do hoje Papa Emérito Bento XVI, sobre irregularidades na Cúria Romana. Cardeais estariam pressionando pelo acesso ao documento. Questionados abertamente, o Vaticano e cardeais minimizaram a importância do documento.
Renúncia de Bento XVI
O alemão Bento XVI, desde 28 de fevereiro Papa Emérito, anunciou em 11 de fevereiro que havia decidido renunciar.
Ele foi o primeiro pontífice a renunciar em mais de seis séculos, o que criou situações praticamente inéditas para a Igreja Católica Apostólica Romana.

Desde a renúncia, Bento XVI está em Castel Gandolfo, a residência de verão dos Papas, que fica a cerca de 25 km do Vaticano. Ele permanecerá lá por dois meses e depois ficará recluso num antigo convento sobre as colinas do Vaticano, com vista para a cúpula da Basílica de São Pedro.