terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Restauração 1940 (IPHAN) MUSEU PADRE TOLEDO


Restauro

Segundo Cesare Brandi, “O restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte na sua consistência física e na dupla polaridade estética e histórica, em vista de sua transmissão ao futuro”. Analisando a definição do consolidador da teoria do restauro, conclui-se que somente o reconhecimento como obra de arte enseja a opção pela categoria de intervenção.
As correntes filosóficas ligadas ao restauro crítico-criativo ainda objetivam a transmissão do bem ao futuro, buscando a unidade entre o novo e o velho. Daí a importância de se efetuar o complexo levantamento de todos os valores culturais e históricos vinculados a história da edificação para que após a uma ampla reflexão, se opte pelos valores a ressaltar numa intervenção. Certamente, como é comum em obras dessa natureza há sempre divergências sobre determinados recortes a serem propostos, já que ainda que projetos dessa modalidade sejam tutelados pelos Órgãos de Preservação, o ato de intervir, ainda recai com uma dose de pessoalidade sobre o autor do projeto e é bom que seja assim, pois senão todas as intervenções seriam padronizadas e o elemento de individualidade de cada intervenção estaria perdido e com ele muito do sentido renovador e de diálogo necessário entre o antigo e o presente que devem conviver de maneira respeitosa e equilibrada numa intervenção dessa natureza.
Neste sentido, a metodologia de intervenção em um bem cultural dessa importância, passa inicialmente pelo fase de estudo e conhecimento do bem, principalmente da sua história documental e arquitetônica, análise que foi facilitada neste caso, em função do bem estar Tombado individualmente desde 1948 e assim existem nos arquivos do IPHAN e da Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade, uma série de documentos referentes as diversas intervenções por que passou o imóvel ao longo do século XX.
A documentação iconográfica mais antiga do edifício que conhecemos do ponto de vista da linguagem arquitetônica da antiga casa do Padre Toledo é uma imagem parcial de Tiradentes do final do século XIX onde se pode ver o edifico antes das intervenções Ecléticas, onde é possível ver a fachada tomada como referência histórica para as intervenções do antigo SPHAN na década de 1940.
Mais documentada, com várias fotografias do período, está a casa sob as intervenções impostas a partir de 1900, que definiram um caráter Eclético para o Edifício, é que foram feitas inicialmente com foco especial no torreão, que ganhou neste período uma “cosmetização arquitetônica” como define esse tipo de adição o arquiteto Carlos Lemos, estruturada arquitetonicamente através de uma escada de acesso lateral que monumentalizava mais essa parte do edifício, somada a um falso jogo de Ordens arquitetônicas, sobrevergas, frontão triangular e lambrequim recortados, que procuravam dar um ar mais requintado de modernidade a essa antiga edificação, operação que foi completada numa época um pouco posterior com a pintura das suas cantarias e a inclusão de um jardim lateral, tão em voga nas tipologias residências do Ecletismo, que era articulado com a rua por um muro baixo de alvenaria de tijolo maciço, ritmado por quatro pilares, cujo dois centrais serviam de batente para o belo portão de ferro fundido, que marcava essa nova entrada secundaria do edifico.
Esse novo muro, alias, certamente foi construído no mesmo local onde devia existir, antes dessa intervenção, o muro antigo de adobe, que dava continuidade ao alinhamento urbano da via e onde havia um portão para a entrada de caleça ou carroça, como ainda hoje demostram os socos amarrados nos muros de arrimo que a antiga fundação evidencia, ainda que com sua abertura hoje mais larga, fruto de intervenções posteriores.
Da coleção de antigas fotos desse período, uma em particular, que mostra a parte dos fundos do edifício do início do século XX, reforça as constatações anteriores, mostrando toda a fachada posterior bastante debilitada, com praticamente, toda a alvenaria de moledo a mostra e já sem reboco, podendo-se também verificar a inexistência total da presença das guilhotinas ou gelosias, além de podermos notar que os anexos das antigas cozinhas já aparecerem completamente em ruínas. Também vemos a presença de uma antiga garagem improvisada, que abriga o que restou de um pequeno Caminhão, sendo possível ver na imagem, com mais aproximação, um fragmento do antigo muro de abobe que existia na frente da casa em ruínas, como também a solução em três águas do torreão com o adereço do fecho dos lambrequins que marca e reforça o eixo de centralidade da nova empena triangular do edifício ecletizado.
Passado este período, temos uma ampla documentação da intervenção efetuada pelo o IPHAN na década de 1940, onde seguindo os cânones em vigor, numa época onde não existiam conceitos muito claros sobre qual deveria ser o objetivo de uma intervenção de restauro, o antigo Sphan interviu como posteriormente descreveu o arquiteto Luiz Saia, um dos pioneiros do antigo SPHAN: “… muito amor por romantismo e pouco respeito por desconhecimento…” Dentro dessas condicionantes, como podemos ver na documentação existente, a intervenção buscou criar uma recriação parcial da espacialidade do edifício, já que os muros da frente não foram reconstruídos. Neste período de inicio de luta pela preservação do patrimônio cultural no Brasil além de não haver uma mentalidade e uma experiência que sedimentasse um maior amadurecimento para esse tipo de intervenção, também não havia recursos nem muita condição técnica para buscar uma base cientifica mais sólida que amparasse com mais critério a reconstrução proposta. Assim o edifício foi restituído a uma possível originalidade dentro do que se acreditava que seria a versão mais próxima da casa no período que ali viveu sem proprietário mais ilustre que foi o Padre Toledo. Para isso, foi utilizando um misto de técnicas vernaculares, principalmente o adobe, mas sem abrir mão do tijolo maciço em alguns serviços onde esse se mostrava mais prático.
Na intervenção coordenada pelo IEPHA/MG no início da década de 1980, que adaptaria o edifício, depois de ter sido Seminário Diocesano por alguns anos, para ser sede de um Museu Regional, administrado pela nova proprietária do edifício, a Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade, já sob a tutela dos valores do restauro do pós-guerra e da Carta de Veneza de 1964, optaram dentro das novas correntes teóricas em vigor a intervir sob o edifício com o objetivo de valorizar mais os valores históricos do monumento, apoiados, como preconiza a carta de Veneza, na valorização fundamental da substancia original e no valor fundamental da documentação histórica, além de trabalhar com a nova ideia, de se incorporar no processo de preservação, as diversas fases da trajetória da edificação. Dentro dessas condicionantes, a intervenção da década de 1980, optou por fragmentar a leitura estética da edificação como um todo, efetuada na intervenção da década de 1940 pelo antigo SPHAN, que na verdade, estava mais próximo do entendimento que deveria ter um acréscimo dentro da cultura arquitetônica vigente nos séculos XVIII e XIX, do que a solução adotada pelo IEPHA/MG, que privilegiou mais o edifício como documento histórico do que como obra arquitetônica.
Dentro desse critério, foi evidenciado o que era o edifício original e também o mirante como um possível acréscimo posterior, neutralizando a massa do sobrado com a pintura em branco que destaca por contraste a valorização do verde das cantarias das janelas do edifício original, que se conjugam com a cantaria da cimalha do edifício, facilitando a leitura arquitetônica do edifício original. Outros detalhes, ficaram como estavam, talvez, para marcar a trajetória da edificação, como foi o caso do pátio lateral criado da maneira que se encontra na intervenção do período Eclético, e que foi incorporado ao edifício de tipologia colonial pela intervenção do antigo SPHAN na década de 1940, certamente, com o objetivo de continuar a valorizar mais a antiga entrada principal da casa e monumentalizar mais a entrada principal do edifício. Essa segundo artificio, alcançado, com o descolando do plano de fachada da casa vizinha, que como sabemos, também pertencia ao Padre Bento Correia, irmão do Padre Toledo.
A atual intervenção de (2009- 2012), seguindo as orientações do IPHAN, optou como prioridade nesta intervenção, por sanar todos os graves problemas estruturais do imóvel, principalmente localizados no edifício do Torreão e restaurar todos os elementos artísticos integrados, de grande valor cultural. Arquitetonicamente, seguindo a orientação do IPHAN, seguiu-se a opção de retornar o edifício a organização espacial e estética construída pela proposta da intervenção executada pelo próprio IPHAN na década de 1940, dirigida pelos arquitetos Lucio Costa e Sylvio de Vasconcelos.

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Restauração 1940 (IPHAN)


























 

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