O incêndio que atingiu a
Boate Kiss, na madrugada de domingo (27), causando a morte de mais de 230 pessoas, em
Santa Maria (RS), tem vários pontos a serem investigados e esclarecidos pela Polícia Civil e pelas autoridades.
(Esta reportagem será atualizada ao longo das investigações do
caso, conforme surgirem novas informações e conclusões das equipes de
investigação)
O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações
divulgadas até o momento por investigadores, é possível afirmar que:
- O vocalista da banda Gurizada Fandangueira
segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era
comum a utilização de fogos no palco durante apresentações do grupo musical.
- A banda comprou um modelo de
sinalizador proibido para ambientes fechados.
- Pelo menos um extintor de incêndio
não funcionou ao ser manipulado pelo segurança.
- Havia
mais público do que a capacidade de 691 lugares apontada pelos Bombeiros.
- A boate tinha apenas
um acesso, para entrada e saída, sem saídas de emergência.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros
estava vencido desde 10 de agosto de 2012.
- Mais de
180 corpos de frequentadores foram retirados dos banheiros da casa noturna.
- Cerca de 90% das vítimas fatais tiveram como causa da morte
asfixia mecânica.
- Os
equipamentos de gravação de imagens estavam em uma empresa de manutenção.
Bombeiros combatem chamas durante resgate na
boate Kiss (Foto: Germano Roratto/Agência RBS)
O que já se sabe: O incêndio começou por volta de 2h30
de domingo, durante apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que
contou com efeitos pirotécnicos. As chamas no teto se alastraram
rapidamente devido ao material inflamável usado como isolamento
acústico, o que produziu fumaça preta e tóxica.
As versões: Sobreviventes
relataram que o incêndio iniciou depois do vocalista ter segurado um
dispositivo pirotécnico no palco. Faíscas atingiram o teto, forrado de
espuma e isopor, e as chamas se espalham rapidamente. O vocalista
Marcelo Santos admitiu em depoimento que segurou uma espécie de
sinalizador, mas disse não acreditar que as faíscas tenham provocado o
incêndio. Integrantes da banda levantaram a hipótese de curto-circuito
em fios que estavam no teto.
O que falta ser esclarecido:
A perícia poderá apontar onde o fogo começou e o que causou o incêndio.
Peritos acharam no chão da boate pedaços do sinalizador, que serão
analisados.
Vídeo publicado em canal do YouTube mostra uso
de pirotecnia no palco (Foto: Reprodução/YouTube)
O que já se sabe: O uso de artefatos pirotécnicos era
comum em shows do Gurizada Fandangueira. Segundo a polícia, a banda
utilizou um produto mais barato, próprio para ambientes abertos, que não
deveria ser acionado em local fechado.
As versões:
Não há lei específica que proíba show pirotécnico em ambientes fechados.
No entanto, para que isso seja feito, é preciso liberação do Corpo de
Bombeiros, que avalia as condições do local. O vocalista do grupo
admitiu que segurou uma espécie de sinalizador, mas disse não acreditar
que as faíscas tenham provocado o incêndio. Ele relatou que já havia
manipulado esse tipo de artefato diversas vezes em outros shows.
Segundo a revista Época,
em depoimento à polícia, uma produtora da banda admitiu que comprou
“fogos gelados” – espécie de fogo de artifício que não queima – e que a
banda não tinha autorização para usá-los.
O que falta ser esclarecido: A
Polícia Civil aguarda os resultados das perícias que poderão dizer se o
sinalizador usado pela banda provocou o incêndio. Caberá ao inquérito
policial apontar também se os integrantes da banda cometeram algum crime
ao utilizar um sinalizador proibido para ambiente fechado.
Foto divulgada pela polícia mostra interior da boate
destruído (Foto: Divulgação/Polícia Civil do RS)
O que já se sabe: Pelo menos um extintor de incêndio foi manipulado quando o incêndio teve início, mas não funcionou.
As versões:
Testemunhas relataram que alguns seguranças tentaram apagar as chamas
no teto da boate com extintores e que os equipamentos não funcionaram.
Segundo o guitarrista Rodrigo Martins, um segurança e o vocalista da
banda tentaram operar o equipamento, que falhou. A boate sustenta que
contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários para o
sistema de proteção e combate contra o incêndio". O delegado Marcelo
Arigony disse que os extintores poderiam ser falsos. Uma ex-funcionária
da boate disse à polícia que Elissandro Spohr, um dos sócios da casa
noturna, mandava retirar os extintores das paredes por questão estética.
O que falta ser esclarecido: A
investigação precisa verificar se os equipamentos estavam regularizados
e em condições de funcionamento. Uma perícia deve apontar se os
extintores eram ou não falsos. Também é preciso saber se os funcionários
souberam manuseá-los de maneira adequada e se receberam treinamento
para esse tipo de situação.
O que já se sabe: Os bombeiros informaram que o local
tinha 615 m² de área e que, portanto, a lotação deveria ser de 691
pessoas. Para o delegado Marcos Vianna, o excesso de pessoas no local
está entre os fatores que contribuíram para que o incêndio na boate
deixasse tantas vítimas fatais.
Versões: Jader
Marques, advogado de um dos sócios da boate, disse que foram impressos
850 convites para a festa e que com 1.000 pessoas a circulação na boate
"é considerada boa". De acordo com investigadores, estavam no local
cerca de 1.300 pessoas. O Corpo de Bombeiros estimou inicialmente o
número de frequentadores em cerca de 1.500.
O que falta ser esclarecido:
O número de pessoas que estava dentro da boate na noite ainda é
desconhecido. Com essa informação seria possível avaliar se o excesso de
gente foi determinante para a tragédia.
Foto mostra as duas saídas que levavam para uma
única porta para rua (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
O que já se sabe: A boate tinha apenas um acesso,
usado tanto para entrada quanto para saída de pessoas, com porta de
tamanho reduzido. Não havia saídas de emergência. A porta, quando
totalmente aberta, chegava a uma largura de 3 metros. Saídas de
emergência são obrigatórias, mas a quantidade e a posição onde devem ser
colocadas são determinadas por uma avaliação técnica feita por um
engenheiro ou arquiteto.
As versões: A boate afirmou
que contava com "todos os equipamentos previsíveis e necessários para o
sistema de proteção e combate contra o incêndio". Segundo major dos
Bombeiros, a casa noturna tinha todas as exigências estabelecidas pela
lei. Segundo a polícia, a saída única está entre os fatores que
contribuíram para que o incêndio deixasse tantas vítimas.Testemunhas
relataram que a boate não possuía sinalização interna e que o local
ficou às escuras logo que o fogo começou, o que dificultou a saída do
público e fez com que muitos frequentadores acabassem no banheiro, onde
morreram asfixiados.
O que falta ser esclarecido:
Ainda não está claro se o estabelecimento atendia a todos os requisitos
de segurança exigidos, uma vez que o alvará não tinha sido renovado, nem
se a boate estava funcionando regularmente. A polícia apura se
eventuais falhas nas instalações contribuíram para a tragédia.
Prefeitura entregou documentos para a polícia e se
eximiu de responsabilidade (Foto: Iara Lemos/G1)
O que já se sabe: O alvará fornecido pelo Corpo de Bombeiros para o funcionamento do estabelecimento está vencido desde 10 de agosto de 2012.
As versões:
A prefeitura de Santa Maria afirma que a sua responsabilidade era
apenas sobre o alvará de localização. Segundo o prefeito Cezar Schirmer,
o que estava vencido era o alvará de prevenção e proteção contra
incêndio, que é fornecido pelos Bombeiros. O major Gerson Pereira disse
que a corporação "fez tudo o que estava ao alcance". A boate sustenta
que a situação estava regular pois já havia pedido a renovação.
O que falta ser esclarecido:
A polícia apura se a boate efetuou mudanças no local após a última
vistoria dos bombeiros, se o processo de renovação do alvará estava
regular e se a casa noturna poderia estar funcionando normalmente.
O que já se sabe: Segundo testemunhas, centenas de
pessoas ficaram desesperadas com o início do incêndio e começaram a
correr em busca de uma saída para a rua. Houve tumulto e muitos
frequentadores caíram e foram pisoteados.
As versões: Testemunhas
relataram que inicialmente os seguranças bloquearam a porta da boate, o
que teria atrapalhado a evacuação, e que os funcionários barraram as
pessoas que tentavam sair sem pagar a comanda. Conforme os relatos, ao
perceberem a fumaça, os seguranças liberaram a passagem. Sobreviventes
disseram ainda que a saída da boate foi dificultada por um biombo na
porta de entrada e saída e grades colocadas no lado externo para
organizar a fila de entrada, o que fez muita gente cair no chão e acabar
pisoteada.
O que falta ser esclarecido: A polícia
investiga se os funcionários seguiram o protocolo correto para situações
de emergência e se os seguranças receberam orientação prévia da direção
da casa para barrar clientes em caso de tumultos. Também é preciso
avaliar se as portas foram totalmente liberadas e se posição das grades
era adequada.
Ilustração mostra o passo a passo da tragédia em
boate que pegou fogo (Foto: Editoria de Arte / G1)
O que já se sabe: A boate desrespeitou pelo menos dois
artigos de leis estadual e municipal no que diz respeito ao plano de
prevenção contra incêndio. Tanto a legislação do Rio Grande do Sul
quanto a de Santa Maria listam exigências não cumpridas como a
instalação de uma segunda porta, de emergência. Outra medida que não foi
cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento
utilizado como isolamento acústico.
As versões: O
advogado da boate Kiss, Jader Marques sustenta que a casa noturna estava
em "plenas condições" de receber a festa. Para o delegado Marcelo
Arigony, " diversos indicativos" apontam que a casa estava irregular e
não podia estar funcionando.
O que falta ser esclarecido:
A polícia apura que outras instalações e sistemas da boate não atendiam
às exigências da legislação. O Ministério Público, por sua vez, apura a
possibilidade de improbidade administrativa por parte de integrantes da
Prefeitura, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos públicos.
O que já se sabe: Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros da boate.
As versões: O
capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das
vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou
morrendo. Testemunhas afirmam que muitas pessoas foram para a porta dos
banheiros achando que era a saída da boate e acabaram ficando presas
ali.
O que falta ser esclarecido: Os investigadores
apuram porque as pessoas fizeram dos banheiros uma alternativa de saída e
se problemas e a falta de sinalização da boate teriam confundido os
clientes.
O que já se sabe: A maioria dos mortos, cerca de 90%,
tiveram como causa da morte asfixia. Segundo o delegado Marcos Vianna, a
espuma usada no revestimento influenciou na formação de gás tóxico,
contribuindo para as mortes.
As versões: A médica
legista Maria Ângela Zuccheto afirmou que 90% dos mortos tiveram asfixia
como causa da morte em razão da rapidez com que o fogo se alastrou e a
quantidade de fumaça. Segundo o pneumologista José Eduardo Afonso
Junior, do Hospital Albert Einstein, a fumaça deveria conter substâncias
tóxicas liberadas devido à queima de materiais inflamáveis, como a
espuma do isolamento acústico presente no teto da boate
O que falta ser esclarecido: Ainda não está claro se algumas vítimas morreram após terem sido pisoteadas no tumulto.
O que já se sabe: A agonia de parentes e amigos
começou por volta das 3h da madrugada, mas o momento em que ocorreram as
mortes não foi determinado. A combinação da fumaça com o calor das
chamas causa danos diretos ao sistema respiratório, podendo provocar o
óbito em poucos minutos.
As versões: A perícia
acredita que muitas das vítimas possam ter morrido poucos minutos após o
início do incêndio. O médico otorrinolaringologista Richard Voegels, do
Hospital das Clínicas da USP, explica que 5 minutos sem respirar pode
provocar parada cardiorrespiratória.
O que falta ser esclarecido: A polícia apura se vítimas morreram asfixiadas antes de poderem buscar a saída da boate.
O que já se sabe: Não foram localizadas imagens das
câmeras da boate. Uma empresa que presta serviços de manutenção para
câmeras de segurança entregou à polícia um gravador que seria usado para
registrar imagens e informou que recebeu o equipamento há uma semana
para ser consertado.
As versões: O dono da boate
afirmou que o sistema não estava funcionando havia três meses e que, por
isso, o computador não estava mais na boate. A empresa de manutenção
disse que o equipamento foi trazido para conserto há uma semana e que o
sistema não esteve em funcionamento nesse período.
O que falta ser esclarecido: A
polícia apura se o equipamento foi de fato retirado da boate antes do
incêndio e se imagens não foram apagadas. Uma perícia vai esclarecer se o
equipamento entregue pela empresa de manutenção realmente ficou
desativado dutante os últimos dias.
Mauro Hoffmann, um dos donos da boate, é preso
após tragédia (Foto: Emerson Souza/Agência RBS)
O que já se sabe: Quatro pessoas tiveram prisão
temporária de cinco dias decretada na segunda-feira (27): o dono da
boate, Elissandro Calegaro Spohr, conhecido como Kiko; o sócio, Mauro
Hofffmann; o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e
um funcionário do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, que fazia
serviços de segurança e outras funções auxiliares. Spohr está internado
em hospital de Cruz Alta, sob custódia da polícia. Na terça-feira (28),
ele tentou suicídio. Os outros três estão no Presídio de Santo Antão. A
Justiça também bloqueou os bens da empresa que gere a boate. Os
proprietários do estabelecimento também tiveram os seus bens retidos a
pedido da Defensoria Pública. Na sexta (1º), foi
prorrogada por 30 dias a prisão temporária dos envolvidos.
As versões:
Segundo o Ministério Público, a polícia diz que a manutenção da prisão é
necessária porque há possibilidade de fuga caso eles sejam soltos nesta
sexta, data em que se encerraria a prisão temporária de cinco dias
expedidas pelo Judiciário.
O que falta ser esclarecido: Ainda não se sabe se as defesas vão pedir que a liberdade dos suspeitos de envolvimento.
O que já se sabe: O inquérito policial que apura as
causas e os responsáveis pela tragédia deve levar cerca de 30 dias para
ser concluído. O Ministério Público também abriu inquérito civil para
investigar a possibilidade de improbidade administrativa por parte de
integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de Bombeiros e de
outros órgãos públicos por terem permitido que a boate continuasse
funcionando mesmo licenças vencidas. Segundo especialistas ouvidos pelo
G1, os crimes possíveis para o caso são homicídio (culposo ou com dolo eventual), incêndio e lesão corporal.
As versões:
O delegado Marcelo Arigony e a promotora Waleska Agostini dizem que
existe a possibilidade dos donos da boate e dos músicos serem acusados
de homicídio culposo. "É possível, mas ainda é muito prematuro
responsabilizá-los", declarou a promotora. Segundo o promotor Cesar
Augusto Claran, o inquérito civil visa apurar se houve falhas ou
negligências por parte de órgãos públicos.
O que falta ser esclarecido:
Caberá à polícia e ao Ministério Público apontar responsáveis pela
tragédia e decidir se haverá indiciamentos e denunciados, e quais os
crimes cometidos.
'Não sei como fiz para puxar o ar', diz jovem que usou freezer para se salvar
Ingrid Goldani ainda não sabe quem a ajudou a se salvar no incêndio.
Estudante de enfermagem trabalhava no local havia um mês e meio.
No hospital, Ingrid pede para checar as redes
sociais pelo celular (Foto: Luiza Carneiro/G1)
Um dia depois deixar o CTI do Hospital Conceição, em
Porto Alegre,
Ingrid Goldani ainda não sabe quem a ajudou a se salvar do incêndio na
boate Kiss, em Santa Maria, no domingo (27), que matou 236 pessoas. A
jovem de 20 anos trabalhava no bar da casa e puxou fôlego em um freezer
para conseguir sair do local com vida.
"Nem sei como fiz para puxar o ar. Na hora do nervosismo, lembrei do
freezer. Puxei o ar, botei a camiseta no nariz e na boca e fechei os
olhos. Fui às cegas", contou ao
G1 na manhã desta sexta-feira (1).
O pesadelo que viveu durante o incêndio é uma memória que ela quer
apagar. Quando percebeu a confusão, disse que correu para avisar as
colegas que estavam no caixa e lembrou que o freezer era o único local
com oxigênio "limpo". Ao pular o balcão para escapar, Ingrid caiu e foi
pisoteada.
A vantagem de conhecer a casa noturna a ajudou. "Foi o que me tirou lá
de dentro. Eu conhecia onde estava indo", disse. Quando estava no chão,
um jovem a pegou no colo e a tirou do tumulto. A mãe da menina postou um
agradecimento ao salvador anônimo.
"Graças a Deus e ao rapaz que ajudou ela a sair daquele inferno. Meu
eterno agradecimento a você", comentou Eliete em seu perfil no Facebook.
Ingrid Goldani trabalhava na boate Kiss
(Foto: Reprodução)
Ingrid trabalhava na casa noturna havia um mês e meio. Neste período,
diz que nunca viu show pirotécnico no local. "Não conhecia ninguém da
banda. Eles tocavam lá pelo menos uma vez por mês", lembrou. Ela ainda
disse que tinha apenas relação "profissional" com Elissandro Spohr, um
dos sócios da Kiss.
"Eu vi tudo o que aconteceu e travei. Sempre gostei de festa. Antes de
trabalhar na Kiss trabalhei em outro bar. Eu achei que nunca precisaria
me preocupar com isso", contou.
Ingrid está no quinto semestre de enfermagem. Se estivesse em condições
no momento, gostaria de ajudar os feridos de Santa Maria. "A gente tem
de pensar em ajudar os outros, não importa a situação em que esteja",
repetiu Ingrid. A previsão é que a jovem saia do hospital no início da
próxima semana.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em
Santa Maria, região central do
Rio Grande do Sul,
deixou 236 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve
início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez
uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de
sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento
por investigadores:
- O vocalista
segurou um artefato pirotécnico aceso.
- Era
comum a utilização de fogos pelo grupo.
- A banda comprou um
sinalizador proibido.
- O extintor de incêndio
não funcionou.
- Havia
mais público do que a capacidade.
- A boate tinha apenas
um acesso para a rua.
- O alvará fornecido pelos Bombeiros
estava vencido.
- Mais de
180 corpos foram retirados dos banheiros.
- 90% das vítimas fatais tiveram
asfixia mecânica.
-
Equipamentos de gravação estavam no conserto.
(
Veja o que já se sabe e as perguntas a responder)
Prisões
Quatro pessoas foram presas na segunda por conta do incêndio: o dono da
boate, Elissandro Calegaro Spohr; o sócio, Mauro Hofffmann; o vocalista
da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos; e um funcionário do
grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, responsável pela segurança e outros
serviços.
Investigação
O delegado Marcos Vianna, responsável pelo inquérito do incêndio na boate Kiss, disse ao
G1 na terça-feira (29) que
uma soma de quatro fatores
contribuiu para a tragédia ter acabado com tantos mortos: 1) o fato de a
boate ter só uma saída e a porta ser de tamanho reduzido; 2) o uso de
um artefato sinalizador em um local fechado; 3) o excesso de pessoas no
local; e 4) a espuma usada no revestimento, que pode não ter sido a mais
indicada e ter influenciado na formação de gás tóxico.
O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou também na
terça que a Polícia Civil tem "diversos indicativos" de que a boate
estava irregular e
não podia estar funcionando.
"Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes",
disse em entrevista. "Mas isso ainda é preliminar e precisa ser
corroborado pelos depoimentos das testemunhas e os laudos periciais",
completou.
Arigony disse ainda que a banda Gurizada Fandangueira utilizou um
sinalizador mais barato, próprio para ambientes abertos e que
não deveria ser usado durante show em local fechado.
"O sinalizador para ambiente aberto custava R$ 2,50 a unidade e, para
ambiente fechado, R$ 70. Eles sabiam disso, usaram este modelo para
economizar. Usaram o equipamento para ambiente aberto porque era mais
barato”, disse o delegado.
O vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo Santos, admitiu em seu depoimento à Polícia Civil que
segurou um sinalizador aceso
durante o show, de acordo com o promotor criminal Joel Oliveira Dutra. O
músico disse, no entanto, que não acredita que as faíscas do artefato
tenham provocado o incêndio. Ele afirmou que já havia manipulado esse
tipo de artefato por diversas vezes em outras apresentações.
A boate Kiss
desrespeitou pelo menos dois artigos de leis estadual e municipal
no que diz respeito ao plano de prevenção contra incêndio. Tanto a
legislação do Rio Grande do Sul quanto a de Santa Maria listam
exigências não cumpridas pela casa noturna, como a instalação de uma
segunda porta, de emergência. A boate situada na Rua dos Andradas tinha
apenas uma, por onde o público entrava e saía. Outra medida que não foi
cumprida na estrutura da boate diz respeito ao tipo de revestimento
utilizado como isolamento acústico.
A Brigada Militar informou nesta quarta que a
boate não estava em desacordo
com normas de prevenção contra incêndios em relação ao número de
saídas. Segundo interpretação da lei, o local atendia as normas ao
possuir duas saídas no salão principal. Mas as portas, no entanto, não
davam para a rua, e sim para um hall. Este sim dava para a rua através
de uma só porta. "Foi um ato possível que o engenheiro conseguiu
colocar", disse o tenente coronel Adriano Krukoski, comandante do Corpo
de Bombeiros de Porto Alegre.
Jader Marques, advogado de Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, disse que a casa noturna estava em
"plenas condições" de receber a festa.
Ele falou sobre documentação da casa, segurança, lotação, e disse que a
banda Gurizada Fandangueira não avisou que usaria sinalizadores naquela
noite. O advogado ainda afirmou que o Ministério Público vistoriou o
local "diversas vezes".
A Prefeitura de Santa Maria
se eximiu de responsabilidade
pelo incêndio e entregou alvará para a polícia que mostra data de
validade de inspeção para prevenção de incêndio, feita pelo Corpo de
Bombeiros. A prefeitura afirma que a sua responsabilidade era apenas
sobre o alvará de localização, que é válido com a vistoria do ano
corrente. O documento informa que a vistoria foi feita em 19 de abril de
2012.
O chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros, major Gerson Pereira, disse na quarta que a casa noturna
tinha todas as exigências estabelecidas
pela lei vigente no Brasil. "Quem falhou, que assuma a sua
responsabilidade. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e não
vou entrar em jogo de empurra-empurra", afirmou.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu um inquérito civil na terça para
investigar a possibilidade de improbidade administrativa
por parte de integrantes da Prefeitura de Santa Maria, do Corpo de
Bombeiros e de outros órgãos públicos por terem permitido que a boate
Kiss continuasse funcionando mesmo com as licenças de operação e
sanitária vencidas.